25.1.09

Analisando - "Império dos Sonhos" (2006)

Voltando do exílio da internet eu resolvi comemorar escrevendo sobre o que há de mais novo no cinema de Lynch: Império dos Sonhos (Inland Empire, 2006). Alguns críticos definiram a loucura do filme dizendo que Lynch "está pronto para colocar a camisa de força" (http://www.revistacinetica.com.br/cartalynch.htm), enquanto outros definiram, maravilhados, que Inland Empire pode ser descrito como "um filme dentro de um filme, ou um filme dentro de um filme dentro de um pesadelo" (Marcelo Rezende, BRAVO!, Dezembro de 2007).

Inland Empire conta a história de uma atriz, Nikki Grace, que consegue um papel em uma refilmagem de um antigo filme polonês cercado de mistérios. Ela se apaixona pelo protagonista do filme, Devon, e passa a sofrer alucinações em que o marido dela a persegue, ou em que é assassinada, assim como os protagonistas do filme original. É fato que os caminhos que o filme toma poderiam facilmente ser labirintos. Lynch explora aqui toda a sua capacidade de abstração, concentrada principalmente no enredo (o filme não tinha roteiro, segundo ele) e na não-linearidade da trama. O que seria começo se mostra o final, o que seria o final na verdade não é, o que aconteceu hoje pode ter sido ontem ou amanhã, e o que é real se funde às alucinações de Nikki Grace, e se funde à atuação da personagem dela no filme, Susan Blue. Então, quando qualquer coisa acontece com ela o espectador fica confuso, sem saber se aquilo foi uma alucinação, se foi parte do filme dentro do filme ou se é real.

E mesmo com gente achando que isso é loucura, Lynch se diverte com isso. Ele foi questionado sobre a existência de um roteiro ou de um plano de filmagem. "Adoro o mistério e o desconhecido. Gosto de entrar em um mundo e não saber o que vem pela frente. Gosto do apagar das luzes, quando sobe o pano e entramos em um mundo novo", disse Lynch. "Não devemos ter medo de usar a intuição e sentir o caminho. Viver a experiência e confiar no conhecimento interior. O cinema é uma linguagem tão bela... ele trata de coisas que vão além das palavras, e isso é belo", acrescentou o mestre. Conclusão: se você ainda fica confuso frente à confusão de Lynch, não assista esse filme, ele pode te causar náuseas.

Lynch filmando Laura Dern em Inland Empire