2.10.10

Analisando: "Duna" (1984)




Junte uma obra grandiosíssima de ficção científica, premiada com o Hugo e o Nebula no ano de sua publicação, com a produção do lendário Dino De Laurentiis e a presença de uma das maiores estrelas da música da época no casting, tudo isso sob a direção sempre curiosíssima e magistral de David Lynch. Qual o resultado disso? "Duna", um filme que deveria estar no rol de grandes clássicos do Sci-Fi, mas que injustamente foi tomado como fracasso e deixado de lado nas prateleiras e nas salas de cinema.
Os eventos se passam dez mil anos no futuro. A questão se desenvolve em torno da água. Basicamente, se trata disso. Mas, sob um olhar mais atento, percebe-se crítica clara à religiosidade monoteísta, e um filme que, se houvesse sido melhor montado, seria absurdamente excepcional.




Os pontos fortes do filme só podem ser vistos na versão estendida, lançada à revelia de Lynch, que pediu veementemente a retirada de seu nome dos créditos. É óbvio que a adaptação de um grande volume (Duna, de Frank Herbert, tem mais de seiscentas páginas) gera vários problemas. Mas, nas primeiras etapas da pós-produção, o produtor De Laurentiis praticamente ignorou a decupagem feita por Lynch e deturpou completamente o produto original, de quase três horas e meia, transformando o que até então era uma obra-prima em um amontoado de cenas picotadas toscamente, em um filme de difícil entendimento até para quem leu o livro.
Contamos aí com a atuação impecável de três figuras: Kyle MacLachlan, grande parceiro de Lynch em várias produções; Max Von Sydow, estrela de porte-maior na cinematografia de Bergman, com um hiato na década de 70 e firmando-se na década de 80; e Sting, que trabalhou com outros grandes nomes como Terry Gilliam, Fred Schepisi e Franc Roddam, e posteriormente Guy Ritchie.À medida que relevamos os defeitos do filme e percebemos a beleza da obra integralmente, descobrimos que "Duna", ao contrário do que dizem, não é um filme para se ver por quesito de curiosidade. É uma obra a ser apreciada, aos poucos, um filme para se ver e rever.